Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 21 de abril de 2018

Macau – Declamar poesia para melhorar o português

O Instituto Politécnico organizou a 13ª edição do Concurso de Declamação de Poesia em Português para Instituições de Ensino Superior da China que contou este ano com estudantes de quatro universidades locais e oito do Continente. Os alunos encaram o concurso como uma forma de melhorar o seu conhecimento de Português



Trinta estudantes de quatro instituições de ensino superior locais e oito do Interior da China estiveram no Instituto Politécnico de Macau (IPM) para participar na 13ª edição do Concurso de Declamação de Poesia em Português para Instituições de Ensino Superior da China.

Joshua Aslarona concorreu pela primeira vez. Tem 20 anos e está a frequentar o segundo ano da Licenciatura em Estudos Portugueses da Universidade de Macau. “Gosto de declamar poesia mas nunca tive oportunidade o fazer. É a primeira vez que participo num concurso de poesia, mas já não sou amador em termos de concursos de falar em público”, contou.

O jovem, que nasceu nas Filipinas mas cresceu em Macau, escolheu declamar o poema “Mãe” de Eugénio de Andrade. “Identifiquei-me muito [com o poema] porque estou numa fase de transição da minha vida em que tenho cada vez menos tempo para a minha família, para a minha mãe”, sublinhou, acrescentando que só agora começa a conhecer poesia de autores portugueses.

A decisão de estudar Português prende-se com o facto de lhe dar a possibilidade de trabalhar em várias áreas. “Posso ser jornalista, posso estudar direito ou ser tradutor-intérprete, se aprender chinês também, que já estou a aprender, mas é um pouco difícil”. Por agora, assegura, ainda não tem a certeza do que se segue ao fim da Licenciatura.

Verónica Ruan também ainda não sabe o que fará quando terminar os estudos. “Estou a estudar português na Universidade de Estudos Internacionais de Pequim, no segundo ano. Vou interpretar ‘Cântico Negro’, de José Régio. É um poema muito intenso, tem muita emoção e eu gosto muito desse tipo de poesia”, sublinhou antes da competição a jovem de 23 anos que também aprecia textos de Fernando Pessoa.

A decisão de estudar Português foi fácil. “Gosto muito de línguas. Quando estava na escola secundária estudava muito bem inglês. As línguas são um talento meu. Portugal é um país muito bonito, tem uma cultura maravilhosa e uma história muito longa. Gosto muito da história dos descobrimentos”, destacou.

Quando terminar o curso admite a possibilidade de trabalhar tanto no estrangeiro como na China. “A minha língua é uma vantagem muito grande para trabalhar em Portugal, no Brasil ou na China como tradutora, intérprete ou jornalista”, apontou.

A aprendizagem do Português não tem sido difícil. “Gosto muito da gramática e de conversar com outras pessoas e acho que os portugueses são muito simpáticos. Este ano vou para a Universidade do Minho, em Braga, e vai ser um período muito interessante”, destaca.

Ao contrário das outras duas estudantes, Chu Xiaorui já sabe o que quer fazer quando terminar os estudos: investigação. Para o concurso do IPM escolheu interpretar um poema de Fernando Pessoa. “Gosto de Fernando Pessoa porque tem muitas perspectivas diferentes. É muito diversificado mas muito difícil. Estou no segundo ano, estou a aprender Português pouco a pouco, mas tenho algumas dificuldades. Em primeiro lugar, a linguagem, porque depende dos heterónimos”, sublinhou o jovem de 21 anos que estuda Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pequim.

A decisão de estudar Português derivou da curiosidade que tinha em relação ao mundo lusófono. “Portugal e o mundo da Língua Portuguesa são pouco conhecidos no contexto da China, são pouco estudados. Gosto de Luís de Camões porque estou a estudar filósofos da Grécia Antiga e Luís de Camões tem um pouco a ver com eles. Queria estudar e descobrir mais sobre os poemas de Luís de Camões”, disse o aluno, que acabou por conquistar o primeiro prémio no concurso de ontem.

Voltar aos valores originais

Chu Xiaorui destaca ainda a importância de regressarmos aos valores originais. “Hoje em dia o mundo avança muito depressa. Todos os dias as pessoas trabalham, comem, mas os corações estão vazios. Os valores estão a perder-se eles podem ser encontrados nos filósofos gregos. Gostava de devolver estes valores às pessoas. Camões também destaca os seus sentimentos em relação à Pátria e Fernando Pessoa diz que é importante construir uma cultura nova, de futuro. Ambos os autores estão a tentar criar novos valores”, defendeu o jovem.

Quando terminar o curso, Chu Xiaorui gostava de prosseguir os seus estudos na área da Sociologia ou Filosofia, nos EUA. Posteriormente, gostaria de enveredar pelo ramo da investigação. “Gostava de voltar à Universidade de Pequim e fazer investigação usando fontes em Língua Portuguesa, que é uma língua que adoro”, sublinhou.

O concurso resulta na entrega de nove prémios, três em cada nível – elementar, intermédio e avançado. O segundo prémio, que foi atribuído a Liu Xingyu (Estrela), contou com o patrocínio pela Fundação Rui Cunha. Houve ainda um prémio especial, da responsabilidade da Fundação Oriente, para reconhecer a melhor declamação de poema relacionado com o Oriente, seja devido ao tema, seja pelo autor.

IPM ajuda Fundação da EPM a levar Português a Zhuhai e Hengqin

O Instituto Politécnico de Macau (IPM) está a cooperar com a Fundação Escola Portuguesa de Macau (FEPM) para implementar aulas de Português em duas escolas no Interior da China. “O que temos feito é ajudar a desbravar caminho porque o IPM conhece melhor a situação da China”, explicou Carlos André. “Foi através do IPM que a FEPM chegou a uma escola em Zhuhai, privada, que vai abrir a partir de Setembro e projecta-se já uma ou mais turmas e um centro de línguas onde haverá língua portuguesa. A segunda escola, não estive envolvido porque foi mais institucional, por parte do governador de Hengqin”, disse o director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM. Carlos André acredita que a colaboração do IPM pode ser útil ao nível do recrutamento de docentes por já ter conhecimento da situação em mais de 30 universidades chinesas. “É mais fácil para nós fazer o recrutamento de bilingues e temos em carteira vários candidatos nativos, portugueses, para posições de ensino no Interior da China”. Além disso, o IPM produz materiais de ensino, recordou. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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