Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Cabo Verde - Três em cada quatro cabo-verdianos insatisfeitos com funcionamento da democracia

Três em cada quatro cabo-verdianos mostram-se nada ou pouco satisfeitos com o funcionamento da democracia, concluiu uma sondagem divulgada no passado dia 25 de Abril, acrescentando que quase metade considera que a democracia do país tem grandes problemas



Segundo os primeiros resultados do estudo do Afrobarometer/Afrosondagem relativo à Democracia em 2017, mais de três quartos (76%) dos cabo-verdianos mostram-se nada/pouco satisfeitos com o funcionamento da democracia.

Quase metade (44%) considera que o país tem uma democracia "com grandes problemas" e que a maioria (82%) dos políticos nunca/poucas vezes faz o melhor para ouvir aquilo que o povo tem para lhes dizer.

Apesar das críticas ao funcionamento, a maioria dos cabo-verdianos (70%) considera que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo.

A sondagem notou que a maioria dos cabo-verdianos (70%) afirma que as pessoas são totalmente livres para dizerem o que pensam sobre a política e que seis em cada 10 consideram que a imprensa é livre para investigar e documentar os erros do Governo ou criticar as suas atividades e/ou desempenho.

Dois em cada três cabo-verdianos afirmam que os cidadãos têm liberdade para se filiar em qualquer organização política.

Sobre as formas de governar, a maioria (81%) dos cabo-verdianos aprova o multipartidarismo, contra 16% dos cabo-verdianos que ainda aprovam o monopartidarismo.

Quanto à escolha dos líderes, a maioria dos cabo-verdianos (72%) entendem que deve ser feita através de eleições, enquanto 12% acham que deveria ser por outros meios, que não especificam.

Relativamente ao grau de democracia, uma pequena proporção dos cabo-verdianos (13%) considera que o país tem uma democracia completa, mais de um terço (37%) entendem que há pequenos problemas.

O estudo analisou também as atitudes face ao mercado e à economia, onde a maioria dos cabo-verdianos (58%) consideram que o país está sendo dirigido na direção errada, contra 38% que defendem que o país está na direção certa.

Relativamente à atual condição económica do país, é considerada má por cerca de metade dos cabo-verdianos (47%), numa apreciação idêntica à dos resultados registados em 2014.

Segundo o inquérito, pouco mais de um quinto dos cabo-verdianos qualificam as suas condições de vida como sendo boas e a maioria (72%) acha que vai melhorar nos próximos tempos.

Sobre a segurança, o estudo concluiu que a perceção de insegurança vem diminuindo ao longo dos anos, mas mesmo assim continua num grau elevado em Cabo Verde.

"A diferença entre a perceção da violência e a realidade vivida em termos de segurança é bastante acentuada, sendo que a maioria dos cabo-verdianos não têm sido vítimas de qualquer tipo de violência", constatou a Afrosondagem.

A Afrosondagem está ligada à Afrobarometer, uma rede de pesquisa apartidária em 36 países africanos, e já realizou inquéritos idênticos em 2002, 2005, 2008, 2011 e 2014 sobre as atitudes dos cidadãos em matéria de democracia, governação, economia, sociedade civil, e outros tópicos.

Nesta sondagem, com recolha de dados entre 20 de novembro e 05 de dezembro de 2017, foram entrevistadas cerca de 1.200 pessoas com mais de 18 anos nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Fogo e Santiago, e o estudo tem uma margem de confiança de 95%.

A Afrosondagem vai fazer ainda novas apresentações sobre confiança nas instituições, performance do Governo, avaliação do estado da justiça, corrupção, equidade e igualdade de género e participação política. In “Contacto” - Luxemburgo





Angola - Cabinda: Igreja de Lândana desaba com chuvas

A igreja centenária de Lândana, em Cabinda, classificada como Património Histórico-Cultural, não resistiu às últimas chuvas que atingiram a província, tendo desabado este sábado, 28, após vários alertas de risco que se acumularam sem uma intervenção



Há vários meses que a centenária igreja de São Tiago Maior, da missão Católica de Lândana, município de Cacongo, em Cabinda, sofria pequenos desabamentos e fissuras no revestimento na parte frontal.

Segundo o pároco local, Eugénio Cassoma, citado pela agência Lusa, desde que o templo completou o centenário de existência que já apresentava fissuras. ou seja, há mais de quatro décadas.

Ainda de acordo com a mesma fonte, os problemas no edifício foram se agravando desde 2015, sem ter sido realizada qualquer intervenção.

Para além do cúmulo de deficiências estruturais terá pesado para este desfecho, que não causou danos humanos, o intenso movimento de pesados na estrada contígua à igreja, decorrente da construção do porto de águas profundas do Caio.

Erguida no período colonial, a igreja completaria 145 anos no final de Julho. In “Novo Jornal” - Angola

Brasil – Nomeia novo delegado para fórum Macau



O Governo brasileiro confirmou ontem a nomeação de Rafael Rodrigues Paulino para o cargo de delegado no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

“O Governo brasileiro comunicou ao Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau) a designação do secretário Rafael Rodrigues Paulino como delegado naquele Fórum, a partir de 18/4/2018”, informou o Itamaraty num comunicado.

Rodrigues Paulino, segundo secretário do Consulado Geral do Brasil em Hong Kong, substitui o diplomata Rodrigo Mendes Araújo, que actualmente trabalha na embaixada brasileira em Pequim.

Segundo o Governo, as mudanças no fórum reflectem o desejo do Brasil de estreitar ainda mais as suas relações diplomáticas com a China, que é actualmente o seu maior parceiro comercial.

No ano passado, o investimento chinês no Brasil atingiu 24,7 mil milhões de dólares, segundo dados divulgados pelo Ministério do Planeamento, Desenvolvimento e Gestão brasileiro.

O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa foi criado em Outubro de 2003. In “Ponto Final” - Macau

domingo, 29 de abril de 2018

Tocando em frente














Vamos aprender português, cantando


Ando devagar, porque já tive pressa
levo esse sorriso, porque já chorei demais
hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe?
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
ou nada sei.

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs,
é preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir,
é preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha e ir tocando em frente,
como um velho boiadeiro levando a boiada
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou,
estrada eu sou.

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs,
é preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir,
é preciso a chuva para florir.

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
um dia a gente chega, no outro vai embora
cada um de nós compõe a sua história,
cada ser em si carrega o dom de ser capaz,
de ser feliz.

Conhecer as manhas e as manhãs
o sabor das massas e das maçãs
é preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir,
é preciso a chuva para florir.

Ando devagar, porque já tive pressa
e levo esse sorriso, porque já chorei demais,
cada um de nós compõe a sua história,
cada ser em si carrega o dom de ser capaz,
de ser feliz.

Almir Sater – Brasil

Renato Teixeira - Brasil

sábado, 28 de abril de 2018

Finlândia - Primeiro navio com vela rotativa entra em testes



Rotor Flettner e efeito Magnus

Existem projetos de navios a vela que tornam os cargueiros marítimos modernos bem parecidos com seus similares antes do advento do vapor, mas existem também designs que tornam o navio inteiro uma enorme vela.

O estaleiro finlandês Norsepower queria algo mais imediato, que tornasse possível dotar os navios atuais, que já estão navegando, de uma fonte adicional de impulso que lhes permita economizar combustível.

A solução encontrada é uma vela rotativa, uma versão modernizada de um rotor Flettner, inventado pelo engenheiro alemão Anton Flettner há cerca de 100 anos.

A vela rotativa baseia-se no efeito Magnus, pelo qual o vento que passa por um cilindro giratório move o ar mais rapidamente de um lado do que de outro, o que resulta em um empuxo a 90º da direção do vento - o efeito Magnus já foi usado para projetar bolas de futebol e um sistema de geração de eletricidade usando balões.



Navio com vela rotativa

A disponibilidade de materiais compósitos de última geração permitiu construir a vela rotativa de 24 metros com a resistência necessária, mas também com um peso que permite sua instalação rápida em navios já operacionais usando guindastes comuns.

A primeira vela rotativa foi instalada no navio M/S Viking Grace, que deverá ter uma redução no consumo de combustível de até 30% e redução de emissões de carbono de 900 toneladas por ano, dependendo da rota - durante os testes ele está fazendo o trajeto entre Turku, na Finlândia, e Estocolmo, na Suécia.

Os testes deverão durar até o final deste ano. Se as previsões de economia se confirmarem, o estaleiro estima que a vela rotativa poderá ser instalada em até 20 mil navios atualmente em circulação. In “Inovação Tecnológica” - Brasil

Galiza - Crónica do II Encontro de mulheres da lusofonia



No seu poema “Tempo e violência” a irlandesa Eavan Boland imagina uma sereia que quer ser humana para poder criar, envelhecer e morrer. “Isto é o que a linguagem nos fez”, languidescer numa gramática de suspiros, diz a sereia do Mar do Norte do poema de Boland. Uma experiência semelhante, verificar o que a linguagem faz das nossas vidas, pode explicar porque quando estudava Filosofia na secundária me resisti tanto a compreender aquilo do mundo das ideias platónico, um mundo que sentia cristalizado e mudo. Em aquela resistência também havia algo de saudade do movimento e da ligação constante, daquele “viver na torrente da universal reciprocidade” da feliz expressão do filósofo Martin Buber, saudade que continuo a sentir quando uso palavras em que não ressoam nem a luz do dia nem as mãos da minha mãe nem o som das árvores quando sopra o nordês. E havia muito, claro, da representação social das mulheres como sujeitos sem história, as muitas versões do eterno feminino em que, como a sereia do poema, não podemos sentir calor nem tornarmo-nos velhas, medidas como somos sempre em relação a padrões que com violência detêm os nossos corpos e as nossas experiências.

Eis-me agora na encruzilhada de habitar uma língua entre a desterritorialização e a necessidade de criar rede entre pessoas de diferentes territórios, na esperança de que comunicar com outras mulheres em língua portuguesa seja um caminho para a nossa sobrevivência como comunidade no mundo. Esperançada também na necessidade de me verbalizar como sujeito histórico, no meio de processos que vêm de longe no tempo e no espaço e nos que não me demito de ser parte ativa. Esperançada também na convicção de termos, como mulheres galegas, um discurso único dentro do espaço internacional da língua portuguesa, em grande parte por construir, porque não é se não no encontro e no diálogo que um discurso assim se pode verbalizar. Há dias, num evento promovido pela UMAR sobre “Feminismo anticolonial”, Área Mouzinho, da Ondjango Feminista de Angola, dizia-nos de Luanda que na África que não é anglófona é difícil criar solidariedade. Existem outros internacionalismos feministas, eu quero um internacionalismo centrado no espaço linguístico, de comunicação e conhecimento, da língua portuguesa, e na herança histórica e imaginária das nossas múltiplas comunidades e pertenças, até porque penso que as línguas e direitos nem são nem devem ser culturalmente neutros nem socialmente cegos.

Estas e outras motivações levaram-nos a organizar por segundo ano, desta vez em Santiago de Compostela, o II Encontro de Mulheres da Lusofonia, numa parceria entre a AGLP, a Pró-AGLP e a UMAR-União de Mulheres Alternativa e Resposta. Com o enquadramento geral “mulheres, territórios, memórias”, começamos o ano passado em Vilar de Santos o mapeamento dos temas que interessam às mulheres dos muito variados territórios aos que chega a língua portuguesa como língua materna, língua segunda, língua de herança ou simplesmente como língua para a comunicação internacional. Desta vez tivemos o apoio institucional da secretária executiva da CPLP e a presença da diretora geral da instituição, Georgina Benrós de Mello, que nos acompanhou não só na mesa de abertura mas nos painéis e sessões. Também nos apoiou a Comissão Temática de Promoção e Difusão da Língua Portuguesa dos Observadores Consultivos da CPLP, da que a AGLP faz parte. Da parte da Comissão contamos com a presença de Mariana Portas de Almeida da Fundação Gulbenkian, que partilhou a mesa de abertura com o subdiretor geral de Relações Exteriores e com a Comunidade Europeia do governo autónomo, José Lago. Ainda, contamos com o apoio do Concelho de Santiago de Compostela que nos recebeu no Paço de Rajoi.

Um dos temas que propusemos este ano foi o de conhecer as diásporas dos países da CPLP na Galiza. Sendo uma das recomendações do Instituto Internacional da Língua Portuguesa o da valorização destas comunidades no espaço da língua portuguesa, é para mim lógico ir ao seu encontro. Na Casa da Língua Comum, sede da Academia Galega da Língua Portuguesa, Jéssica Azevedo deu-nos o testemunho do seu percurso vital entre a Goiâna, Cee, León e Compostela, e o sinal do significado que o encontro com o reintegracionismo teve na sua vida: o de poder usar outra vez o português e sentir-se valorizada por isso. Do testemunho de Sónia Mendes, filha de cabo-verdianos em Burela, e a sua exposição sobre a mobilidade social, ficou-nos para a reflexão até que ponto o racismo se pode sobrepor a qualquer ideia de comunidade linguística.

Contamos também com dous relatos do papel das mulheres na resistência. O da Teresa Sales, do projeto “Memória e Feminismos” da UMAR, e o da jornalista Diana Andringa, que nos falou sobre o papel das mulheres na resistência timorense, que conheceu de perto quando fez o seu documentário “Timor Leste: o sonho do crocodilo” (2002). Dos dous testemunhos tiramos muita reflexão sobre a distância entre os factos históricos e os relatos, sobre a naturalização da secundarização das mulheres no registo dos segundos, sobre aquilo que pode ser “o herói”, ficção tão central nos discursos nacionais, e o papel das mulheres nos movimentos coletivos emancipatórios.

Outro tema que nos pareceu necessário focar neste Encontro e que está bem longe de ter ficado esgotado é o das prisões e a democracia. Há anos ouvi um professor dizer que as prisões em Portugal podiam ser um laboratório de lusofonia. Considerando a proporção de presos com nacionalidade de algum país africano de língua oficial portuguesa (com nacionalidade, mas não necessariamente nascidos), o repto do professor parece mesmo necessário. Desta volta as intervenções foram sobre dous projetos com paralelismos e diferenças, o Projeto-Cárcere da Crunha e o Museu do Aljube-Resistência e Liberdade de Lisboa. Os dous são projetos que partem da cidadania para a recuperação da memória da repressão das ditaduras fascistas em ambas as cidades. Mariola Mourelo, para além de dar-nos a conhecer a história e o presente do projeto, deixou-nos a evocação de Concepción Arenal e a demonstração de como o feminismo é o motor de outros movimentos. Luís Farinha, diretor do Museu do Aljube, trouxe-nos um vivíssimo relato dos inícios da ditadura portuguesa, da repressão e das histórias de vida das “pessoas deserdadas pela ditadura, herdeiros do liberalismo e a luta pelos direitos humanos” que passaram polo do Aljube, prisão política em Lisboa desde 1928 até 1965.

Na Casa das Mulheres Xohana Torres o painel “Feminismos em Compostela” permitiu-nos conhecer um panorama do que se faz e do que se pensa nas associações e no concelho. Para fechar o Encontro tivemos um último painel sobre feminismos no espaço lusófono, com a participação por videoconferência de Nzira de Deus da Fórum-Mulher de Moçambique, da Isabel Hariett Gavião da Ondjango Feminista de Angola, e da Manuela Tavares da UMAR. Falamos da terra, dos direitos das comunidades, dos saberes, da exploração, das barreiras culturais para a emancipação das mulheres… experimentamos ao vivo as analogias das vivências das mulheres em tão diversos territórios.

Houve ainda duas sessões na Livraria Lila de Lilith. A primeira um cine-debate sobre o documentário “Era uma vez um arrastão” com a presença da Diana Andringa, uma das suas realizadoras, e a moderação da antropóloga Luzia Oca, em que falamos do racismo na sociedade portuguesa e não só. E a sessão de poesia com a Iolanda Aldrei, Concha Rousia, Cruz Martínez, Iolanda Aldrei, Jorgete Teixeira, Rosanegra, Teresa Moure e eu própria.

A desumanização, a reificação, a privação da complexidade da identidade de cada indivíduo molda em grande medida a maneira em que se constrói a nossa vida coletiva, a nossa economia e mesmo as relações interpessoais. Quem pode neste mundo realizar aquele “torna-te no que és” de Píndaro? O universalismo e todas as reciclagens da ideia, até o cosmopolitismo ou mesmo a ideia de lusofonia para alguns, pode ser instrumento de domínio e neutralização de projetos políticos que se opõem às várias formas de opressão. Muito discurso de igualdade é na prática de violenta uniformização, e as galegas sabemos duplamente disso, por galegas e por mulheres. Ser cidadão do mundo é privilégio de poucos e ainda menos de poucas. Por aí abaixo há uma complexa hierarquia da humanitas baseada na identificação, classificação e hierarquização de diferenças. Não há como ignorar, não há como evitar que toda esta pluralidade de olhares sobre a condição humana que conheço através das que falam a mesma língua que eu mexam com os meus conceitos do território e da memória, do ancestral e do presente, e que privilegie, sobre qualquer função do narrar, a história catártica, o reconhecimento do trauma e a cura pola palavra que também fazemos neste Encontro.

Queremos diversificar o entendimento da lusofonia na Galiza e não só para além do linguístico e do cultural, falar de racismo, da pluralidade de narrativas sobre a migração, de feminismos urbanos e feminismos rurais, de economia(s), da  degradação do território e os direitos das comunidades, dos saberes ancestrais, queremos saber questionar as estruturas de poder e opressão, descobrir outros significados do reintegracionismo, dar referentes sociais e culturais internacionais em português à sociedade galega, porque o feminismo, como bem se pratica na UMAR, é questão de direitos e também de cultura. E propiciar a construção de um discurso soberano, não reativo, dentro da sociedade galega, com estes diálogos em português além as nossas diversas fronteiras, políticas, imaginárias e emocionais. Algo assim como a construção do inédito viável de Paulo Freire. E assim eu gosto de viver como mulher galega, sujeito histórico no tempo e no espaço, complexa, possível e, sobretudo, inédita. E assim desejo também a sociedade galega, tão complexa e inédita quanto a sua história e a sua língua lhe permitem. Maria Dovigo – Galiza in “Portal Galego da Língua”



Maria Dovigo - Nasci na Crunha em 1972 e vivo desde 2000 em Portugal. A minha formação é a Filologia, exerço a docência e sou poeta por vocação. No labor criativo ligo a minha vontade de intervenção cívica com a convicção de que a criação é a verdadeira natureza do ser humano. Colaboro com diferentes associações do espaço lusófono, tecendo redes de afetos e projetos à volta da vivência da língua portuguesa. Sou académica de número da Academia Galega da Língua Portuguesa.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Brasil - IBGE lança portal voltado para educação

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou na passada quarta-feira, 25 de abril, o IBGEeduca, portal com conteúdos educativos para os diferentes públicos escolares: crianças, jovens e professores. São três áreas adaptadas a cada um destes públicos, com as principais informações sobre os aspectos sociais, econômicos, culturais e territoriais da população brasileira.

Seus conteúdos acompanham as diretrizes educacionais do Ministério da Educação e são permanentemente atualizados com novas abordagens e informações.

A área dedicada às crianças é um espaço para que elas acessem as informações produzidas pelo IBGE em um formato lúdico e com linguagem adaptada ao público infantil. Por meio de textos, gráficos, mapas, vídeos e brincadeiras, os pequenos podem começar a conhecer sobre nossa população e território.

O sítio voltado para o público jovem conta com materiais de estudo, conteúdo preparatório para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e matérias especiais sobre atualidades, além dos principais dados sobre o povo e o território brasileiros. 

Já a área dedicada aos professores traz sugestões de atividades e recursos para trabalhar em sala de aula com as informações produzidas pelo IBGE, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Há também um blogue interativo, em que educadores de todo o Brasil compartilham relatos de suas experiências pedagógicas utilizando dados e materiais do Instituto.

Produzido por uma equipe multidisciplinar, com profissionais de educação, comunicação, design e desenvolvimento web, o portal educa.ibge.gov.br é responsivo, ou seja, pode ser acessado em diferentes dispositivos, como tablets, celulares e computadores. Os sítios também possuem formulário de contato, em que podem ser enviadas dúvidas, sugestões e contribuições interativas. In “Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística” - Brasil

Moçambique – Alinhamento do sector portuário com a ferrovia

O ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, reitera a necessidade de o desenvolvimento do ramo portuário estar alinhado com o transporte ferroviário como forma de assegurar a necessária competitividade e eficiência das infra-estruturas.

Para o alcance deste desiderato, uma das medidas apontadas por Carlos Mesquita é a migração da carga de natureza ferroviária (como ‎é o caso dos minérios a granel) para as ferrovias, maximizando, dessa forma, as vantagens naturais que esta modalidade de transporte oferece.

Por isso, “o Governo está empenhado na melhoria das nossas eficiências logísticas, particularmente na remoção de todos os obstáculos que influenciam negativamente na exploração, em pleno, da capacidade instalada nas nossas infra-estruturas de transporte”, disse o ministro, que falava na quarta-feira, 25 de Abril, na abertura da VI Conferência do Porto de Maputo, organizada pela Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), concessionária do Porto de Maputo.

Carlos Mesquita apontou como parte das medidas o facto de o Governo pretender alargar o horário de funcionamento da fronteira de Ressano Garcia para 24 horas, bem como a redução da burocracia e simplificação de procedimentos, cujos ganhos se resumem na “redução dos actuais congestionamentos na Estrada Nacional Número Quatro e na melhoria da competitividade e eficiência dos nossos corredores de transporte”.

“Como resultado do trabalho desenvolvido, os números demonstram uma melhoria na busca de equilíbrio entre a carga ferroviária e rodoviária. Em 2016, 82% da carga manuseada no Porto de Maputo era rodoviária, contra 18% de natureza ferroviária. Em 2017, este indicador melhorou significativamente para 74% e 26%, respectivamente, tendência que deverá ser consolidada nos próximos anos”, acrescentou.

Relativamente ao Porto de Maputo, gerido pela MPDC há 15 anos, que registou um incremento de 20% no volume de manuseamento de carga, mercê da dragagem do aprofundamento do canal de acesso e das obras de construção e reabilitação de infra-estruturas, o ministro dos Transportes e Comunicações considera que este tem contribuído para o desenvolvimento do sector dos Transportes e Comunicações.

Em 2017, o Porto de Maputo pagou ao País cerca de 19,7 milhões de dólares em rendas fixas e variáveis, para além de cerca de 11,6 mil milhões de meticais em impostos, sendo que a sua contribuição fiscal corresponde a cerca de 6% do total da receita tributária em Moçambique.

Na ocasião, Osório Lucas, director executivo da MPDC, referiu que o Porto de Maputo já atingiu 95% da sua capacidade física, “sendo necessário pensar-se na sua expansão”.

Entretanto, o director executivo da MPDC fez saber que, face aos enormes desafios que se impõem, o Porto de Maputo redefiniu o seu Plano Estratégico, tendo colocado a formação dos recursos humanos, a melhoria da produtividade e a introdução das tecnologias de informação e comunicação (como, por exemplo, a colocação de básculas para pesagem de camiões sem intervenção humana) como prioridades.

Sobre os benefícios da concessão do Porto de Maputo à MPDC, Osório Lucas é da opinião que as mesmas são visíveis. “A reabilitação das infra-estruturas, a dragagem, que permitiu a atracação de navios de grande porte, e a melhoria da taxa de ocupação são parte desses ganhos”. In “Olá Moçambique” - Moçambique

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Internacional - Pirataria ameaça rotas marítimas no Golfo da Guiné

Um relatório da organização International Maritime Bureau descreve as águas ao longo da costa nigeriana como extramente perigosas. Reforço de segurança das embarcações implica custos extra para empresas de transporte



De acordo com o relatório do International Maritime Bureau (IMB), a Nigéria já registou 22 incidentes nos só nos primeiros três meses do ano. Dos 11 navios que foram atacados, oito estavam a cerca de 40 milhas náuticas da costa nigeriana, incluindo um petroleiro com a capacidade de 300 mil toneladas métricas. Em 2017, a organização já tinha registado cerca de 20 ataques a embarcações na mesma área.

Kabeer Adamu é um analista de segurança, presidente de uma firma de consultadoria na Nigéria. Concorda com o relatório que diz que a pirataria no Golfo da Guiné é um grande problema. O analista considera que a monitorização do International Maritime Bureau tem um papel importante, pois se não se conhecesse a realidade, seria um "problema ainda maior".

"Do ponto de vista da segurança, é um desafio. Tudo isto traduz-se em custos adicionais para o transporte, devido ao valor que se tem de pagar para ter mais segurança", explica Adamu.

De acordo com o IMB, os ataques no Golfo da Guiné têm como alvo vários tipos de navios. Já houve tripulações reféns tanto em navios de pesca, como petroleiros. A organização diz estar a trabalhar com as autoridades nacionais e regionais no Golfo da Guiné para dar apoio e coordenar ações anti-pirataria.

"Sei que a marinha nigeriana já fez umas quatro operações na região, algumas delas na Nigéria, outras por todo o Golfo da Guiné. Já adquiriram novos meios, incluindo barcos com armamento", explicou o analista à DW.

Adamu acrescentou que também foram criados postos de controlo. Qualquer embarcação que deixe a Nigéria tem de passar por lá para verificar se tudo está de acordo com os regulamentos em vigor.

Desemprego pode ser causa do aumento de ataques

Um dos principais objetivos da pirataria é obter dinheiro, como explicou um antigo pirata à DW. Um ataque pode ser bastante lucrativo para os criminosos.

"Participei nuns 15 ataques. Um resgate, dependendo do tipo de barco, pode variar entre 400 mil euros e 2 milhões de euros", contou o ex-pirata à DW.

Para Femi Adesin, conselheiro especial para os media e publicidade do Presidente nigeriano Muhammadu Buhari por trás deste aumento dos ataques está o desemprego que afeta aquela região. A pirataria é vista como um recurso para a população.

 "Quando as pessoas veem que não há nada de onde possam tirar benefício, sentem que têm de se desenrascar e acabam por causar problemas a atividades económicas que estão a trazer dinheiro para o país", afirma Adesin.

Com a ameaça, empresas de transporte que operem na região e queiram usar terão de investir significativamente mais em segurança.

Entre março e abril deste ano vários países participaram num exercício aeoronaval no Golfo da Guiné, no âmbito do combate à pirataria e narcotráfico. Entre os participantes estiveram também Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe. In “DW” - Alemanha

Brasil – Estaleiro Atlântico Sul conclui primeiro navio Aframax construído no país



Pernambuco entra para a história da navegação marítima como o primeiro estado brasileiro a construir um navio petroleiro Aframax. Com investimento no valor de R$ 250 milhões, o petroleiro Castro Alves de 248 metros de extensão que carrega até 120 mil toneladas, foi construído no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), instalado no Complexo Industrial Portuário de Suape. A embarcação foi financiada pelo Fundo da Marinha Mercante do Brasil. Para conferir de perto a grandiosidade do investimento, o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Valter Casimiro, visitou o EAS na manhã desta segunda-feira (23/04), na companhia do governador Paulo Câmara, do presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, Marcos Baptista, e, dos deputados federais Tadeu Alencar e Betinho Gomes. A visita também foi acompanhada pela imprensa pernambucana.

Harro Burmann, presidente do EAS, explicou durante a visita que o Castro Alves será entregue ainda este mês. “Hoje posso dizer que esse navio visitado tem uma margem bruta de R$ 120 milhões de reais. No passado, a cada navio que se entregava se perdia um navio. Temos um navio com qualidade indiscutível e dentro do custo e prazo planejado. Também não podemos esquecer o mais importante: feito por brasileiros”, comemorou Burmann, que, luta para atrair novas encomendas para o EAS.

Paulo Câmara garantiu o apoio a manutenção do empreendimento. “Estamos juntos do estaleiro desde o início. Sabemos da importância da indústria e temos aqui um estaleiro de nível mundial, fruto da aposta em Pernambuco e da mão de obra pernambucana. É uma luta que estamos juntos. O ministro conheceu o empreendimento e sai sensibilizado. Nosso estaleiro dá conta do recado e é importantíssimo para a geração de emprego no estado e renda no Brasil”, afirmou.

Para o ministro Casimiro, o setor merece toda atenção da pasta e esta ação é uma indicação de um começo de recuperação. “Temos a consciência de que o momento da indústria naval é bastante desafiador e exigirá ações estruturantes. Sendo assim, o Ministério dos Transportes está empenhado em resgatar o setor. Por isso, estamos mantendo um diálogo com o Governo Federal para formular políticas que dinamizem o segmento”, reforçou.



O Castro Alves é o 11º navio fabricado no empreendimento. Restam, portanto, apenas quatro embarcações da Transpetro para serem finalizadas no EAS. Burmann apresentou o Aframax como a prova de que o empreendimento tem capacidade para receber novas encomendas. Ele articula até uma visita da diretoria da Petrobras ao EAS e ao Castro Alves. “Só a estatal deve contratar 80 plataformas, 160 navios aliviadores e 50 navios de cabotagem nos próximos 25 anos para atender à demanda do pré-sal”, detalha.

Entre 2010 e 2017, o Fundo da Marinha Mercante (FMM) já financiou a construção de 510 embarcações em estaleiros brasileiros. Só em Pernambuco, foram 2 estaleiros e 23 embarcações. Entre os navios, os modelos Aframax e PLSV (Pipe Laying Support Vessel) tiveram 90% dos seus custos financiados pelo FMM, sendo o restante pela Transpetro e outro pela Dofcon, totalizando R$ 1,25 bilhão. Para o ministro, esses equipamentos mostram a importância do Fundo com a construção naval brasileira, que certamente será reaquecida com a estabilidade econômica do país.

60 ANOS FMM – O Fundo é gerenciado pelo Ministério dos Transportes e seus recursos são destinados ao financiamento para projetos de embarcações e estaleiros. Ele foi constituído em abril de 1958 e está completando 60 anos em 2018. Jéssica Lima – Brasil In “Suape”

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Angola – Terceiro grupo gerador da Hidroeléctrica de Laúca vai entrar em funcionamento

A Hidroeléctrica de Laúca, localizada no rio Kuanza e com uma potência total de 2.070 MW, está prestes a tornar-se na maior central hidroeléctrica de Angola.

O terceiro grupo gerador vai entrar em funcionamento no final de Abril, o que vai permitir ultrapassar a produção de 1.000 MW de potência instalada de energia. Com o pleno funcionamento destes três grupos geradores, de um total de seis, a Hidroeléctrica de Laúca consolida-se como a maior central hidroeléctrica de Angola, superando a potência instalada nas centrais de Capanda (520 MW) e de Cambambe (960 MW).

Após a entrada em funcionamento do sexto grupo gerador, o qual se encontra em montagem, Laúca atingirá uma potência instalada de 2.070 MW, tornando-se numa das maiores hidroeléctricas da África Austral a par da central de Cahora Bassa, em Moçambique.

Ao mesmo tempo que produz energia limpa e renovável e contribui para a estabilidade do sistema eléctrico nacional, a Hidroeléctrica de Laúca faz o processo de enchimento da maior albufeira do país.

A previsão é de que até o final do mês de Abril, o reservatório chegue à sua cota máxima, o que vai garantir, com boa margem de segurança, uma capacidade de fornecimento de energia para o próximo período seco previsto para o segundo semestre.

O Aproveitamento Hidroeléctrico de Laúca é uma obra da iniciativa do Governo de Angola, sob a responsabilidade do Ministério da Energia e Águas – MINEA e tutelado pelo Gabinete do Aproveitamento do Médio Kwanza – GAMEK. A construção do empreendimento está a cargo da Odebrecht, empresa responsável desde a elaboração do projecto executivo, até à construção das obras civis, fornecimento e montagem dos equipamentos electromecânicos.

Para transportar a energia aos principais centros consumidores, o escopo do projecto inclui a execução de 750 quilómetros de linhas de transporte de energia, além da construção e ampliação de nove subestações. Laúca conta com 95% da força de trabalho composta por quadros nacionais, e já gerou mais de 13 mil postos de trabalho directos.

Sob a coordenação da Odebrecht, o empreendimento tem estado a intensificar as actividades de preservação da biodiversidade e resgate da fauna e flora locais, iniciadas em Março de 2017, no início do enchimento da albufeira, além do programa de monitoramento da qualidade da água do Rio Kwanza.

Nesta fase, os programas sociais da Hidroeléctrica de Laúca com as comunidades circunvizinhas concentram-se na transmissão de conhecimento e metodologias aos líderes comunitários.

Para tal, foram criadas as micro-empresas comunitárias, organizadas em unidades de produção agrícola, de farinha, pão e sabão. Ao todo, mais de 300 famílias beneficiam-se dos programas de geração de renda. In “A Verdade” - Moçambique


Portugal - Sabugueiro. Vêm aí alimentos com este novo anti-diabetes


99% da produção nacional já é exportada e o país não tira partido do potencial que poderia ser acrescentado com a sua transformação



Apesar de ser ancestral o conhecimento dos benefícios do sabugueiro para a saúde, e de ter um lugar cativo na medicina tradicional, a Universidade de Aveiro (UA) concluiu uma investigação que comprova o seu efeito positivo no controlo dos diabetes. A investigação vai agora orientar-se para a produção de novos alimentos à base desta planta.

A conclusão alcançada serviu de ponto de partida para um projeto mais ambicioso dedicado ao sabugueiro, cujo arranque aconteceu este mês, envolvendo, além da UA, a InovTerra – Associação para Desenvolvimento Local, o INIAV-Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e a InovFood, entre outros.

Daqui para a frente, a ideia é desenvolver produtos, a partir das bagas e das flores, destinados à alimentação. “A prioridade é criar produtos alimentares onde o sabugueiro seja o protagonista, que possam ser usados não apenas no combate à diabetes, mas na promoção da saúde e na prevenção de doenças”, diz a investigadora Sílvia Rocha, do Departamento de Química da UA, que orientou a investigação conduzida por Ângelo Salvador.

Ainda se desconhecem os produtos que poderão chegar ao mercado ao longo dos próximos quatro anos – o tempo de duração do projeto. A UA está a desenvolver formulações e fazer as avaliações nutritivas, para que as empresas interessadas possam assumir a produção futura.

Estamos a falar, por exemplo, de possíveis compotas, concentrados, xaropes e fibras.

“Só assim será possível valorizar o sabugueiro nacional” – o foco do projeto designado por “SambucusValor”, acentua Bruno Cardoso, presidente da InovTerra, que apresentou a candidatura à obtenção de um financiamento de 260 mil euros.

A produção está confinada a cinco concelhos, sendo o mais forte o de Tarouca, seguido do de Tabuaço. Moimenta da Beira, Lamego e Armamar partilham o terceiro lugar em temos de quantidades produzidas. O problema é que os 600 produtores que asseguram as 1500 toneladas por ano de baga fresca exportam 99,9% da baga de sabugueiro, sobretudo para a Holanda e a Alemanha, apenas sujeita a um processo de prensagem antes da expedição, na Regiefrutas, uma cooperativa em Tarouca.

Ou seja, o país não tira partido de um valor que poderia ser acrescentado por cá, através da sua transformação, tal como fazem os países de destino, pelo uso desta matéria prima na indústria alimentar e farmacêutica, como assinala Bruno Cardoso.

A ideia inicial era conhecer as moléculas existentes nas flores e nas bagas do sabugueiro que pudessem ter interesse para a saúde. Criou-se, depois, uma metodologia que permitisse conservar esses produtos ao longo do tempo, sem se degradarem. O final da pesquisa, feito numa universidade polaca, envolveu o uso de animais nos quais foi controlada a dieta com extratos da baga, permitindo concluir que estes podiam ter um efeito importante contra os diabetes, explicou Sílvia Rocha.

Entre os vários efeitos que a planta possa ter na saúde, o impacto no metabolismo da glicose foi visto como relevante porque, como sublinhou a investigadora, “os diabetes representam uma preocupação devido ao número de pessoas afetadas em todo o mundo, e que tenderá a crescer nos próximos anos”.

A ideia é criar um centro piloto, que deverá representar um núcleo de inovação em toda a cadeia de valor do sabugueiro: da planta à criação de novos produtos alimentares de valor acrescentado, lê-se na folha de divulgação do projeto.

Daí que a diversidade da equipa constituída vise aliar “sinergismos e complementaridade, estimulando os canais adequados de comunicação e transferência de conhecimentos e tecnologias, aproximando as entidades de I&D com os produtores e empresas do setor agroalimentar”.

A planta que sobreviveu à ira do Marquês

Bruno Cardoso é, também ele, um produtor, fixado em Tarouca, por via da herança familiar, desde os tempos dos avós. Apesar do peso geracional, tem um gosto pessoal pela produção da planta por motivos que enumera com satisfação: “Primeiro, é uma cultura limpa, sem químicos; segundo, porque é rentável e importante para a região; terceiro, porque o seu teor de doçura é alto, por comparação com produções de outros países europeus; por último, não há problemas com a venda e é paga”.

Os seus terrenos ocupam uma parte dos 350 hectares dedicados ao sabugueiro na totalidade dos cinco concelhos acima mencionados. Mas não é um número rigoroso, devido à dificuldade em apurar a área. Estima-se que metade da produção exista em pomar, mas outra metade das árvores seja usada como bordadura de terrenos com outros cultivos, tirando partido de outras qualidades da planta, quer em termos de robustez contra o vento, quer como repelente de pragas. Eis a sua versatilidade.

Tais vantagens não demoveram Marquês do Pombal de quase o extinguir da flora portuguesa, ordenando o arranque dos sabugueiros, ainda por cima, autóctones do país, para que as suas bagas não fossem usadas indevidamente na adulteração do vinho. Mal sabia ele que a planta viria a ser revitalizada, na expectativa da sua valorização económica. Teresa Costa – Portugal in “Dinheiro Vivo”


terça-feira, 24 de abril de 2018

Macau - “Dar um passo mais longe” na língua portuguesa

Representantes de 31 instituições de ensino superior chinesas estiveram no Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM para debater práticas e preocupações sentidas no processo do ensino do Português como língua estrangeira. Carlos André sublinhou que com esta reunião é possível definir um campo de acção para o futuro que passará por uma comunicação mais estreita e uma colaboração académica e científica mais próxima



O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM) recebeu responsáveis pelo ensino do Português de 31 instituições de ensino superior do interior da China, entre elas a Universidade de Comunicação de Pequim, a primeira a leccionar a Língua Portuguesa, desde 1960, representada por Diana Zhang.

“Conversámos sobre a actividade do Centro no que respeita ao ensino do Português no Interior da China, sobre as acções de formação, produção de materiais, visitas feitas às universidades chinesas, apresentámos a equipa e perspectivámos o futuro, ouvindo a opinião dos professores chineses”, explicou Carlos André acrescentando que foi a primeira vez que se reuniram tantos representantes de instituições de ensino superior chinesas que ensinam Português.

Os docentes do Continente “partilharam connosco as suas preocupações em relação ao futuro”. “Estamos claramente a mudar a matriz no sentido positivo, porque não se trata apenas de produzir materiais para o ensino do Português ou de dar formação a professores. Trata-se de dar um passo mais longe, que é apoiar estes professores nas suas carreiras académicas. Já estamos a lidar com professores universitários de carreira. Têm teses de mestrado e doutoramento para fazer, artigos para publicar e precisam de apoio”, sustenta o director do Centro Científico e Pedagógico da Língua Portuguesa.

Além disso, na reunião “ficou muito claro que face a um xadrez desta dimensão” é necessário “melhorar o sistema de comunicação e de compartilhar muito mais as actividades”, destacou Carlos André. “É um passo importante a dar em frente, perceber como melhorar o sistema de comunicação e criar um sistema de relação entre todos que seja francamente positivo e sobretudo eficiente, tendo em conta que estamos todos no mesmo país”. Perante a necessidade de fomentar a comunicação, Carlos André defende que reuniões deste género se realizem todos os anos.

O diálogo abordou ainda questões como a criação da revista científica “Orientes do Português”, cujo primeiro número será publicado no final deste ano, e um novo modelo de formação que resulta do protocolo assinado entre o Camões – Instituto para a Cooperação e a Língua e o IPM.

Além disso, foi anunciada a continuidade do modelo de publicações do IPM. “Como se sabe, publicámos 10 livros em 2017, temos oito programados para 2018 e, finalmente, anunciámos um passo fundamental que é a transformação total do nosso sistema de presença online por forma a que estes nossos livres sejam todos colocados ‘online’, como livros vivos, que vão recebendo permanentemente inputs, em que um livro não é um objectivo definitivo mas sempre em transformação e sempre susceptível de ser actualizado”, frisou Carlos André.

Na mesma linha de pensamento, os professores que leccionam nas universidades chinesas passaram a ser considerados membros da equipa do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, na medida em que os materiais passam a ser produzidos em regime de “co-autoria”.

Um crescente interesse

A reunião foi também uma oportunidade para os docentes que exercem funções no Continente esclarecerem dúvidas e expor os problemas que enfrentam. Catarina Xu, responsável pelo departamento de português da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, explicou que na instituição de ensino onde lecciona as turmas têm mantido um número de alunos regular, cerca de 20 por ano, na Licenciatura, o que não significa que não haja mais jovens interessados.

“Queremos controlar o número de alunos admitidos para controlar a qualidade do ensino do Português. Estamos a ver uma tendência grande de procura da Língua Portuguesa. Há mais de 10 anos havia 10 ou 11 universidades com o curso de Português. Agora contamos quase 40 instituições. Há um crescimento da procura”, frisou a docente.

“Com a eleição do ex-primeiro ministro português, António Guterres, [para Secretário-geral da Organização das Nações Unidas], todos nós, mesmo chineses, queremos que a Língua Portuguesa seja uma das línguas de trabalho da ONU. Isso reforça o desejo de aprender Português na China”, destacou Catarina Xu.

Diana Zhang pinta um quadro semelhante. “A área do ensino do Português no Continente chinês enfrenta grandes desafios. Um deles, como já viram, é o facto de o corpo docente ser muito jovem. Nos últimos anos cresceu o número de universidades que ministram o curso de Português, mas faltam recursos humanos no sentido do corpo docente”, alerta a professora de Pequim.

Neste sentido, as acções promovidas pelo IPM são benéficas. “O IPM forneceu cursos de formação para professores o que nos deu uma oportunidade para aprofundar o conhecimento e nos ajudou muito nas práticas de ensino. Assim, os professores jovens conseguem enriquecer as suas competências de ensino”, destacou.

Em jeito de conclusão, Carlos André sublinhou que o aumento exponencial do número de universidades que ensinam Português “não aconteceu em mais lado nenhum”. “Vai-nos exigir cada vez maior empenho e diversificação de tarefas porque, ao mesmo tempo que já há um número considerável de docentes que vão fazendo doutoramentos e, portanto, que atingem um nível avançado no que diz respeito à competência científica e qualidade académica, surge uma quantidade grande de docentes muito jovens que precisam de outro tipo de apoio, ao nível da formação, preparação, porque sabem falar Português mas precisam de muito no que respeita ao ensino do Português como língua estrangeira”, salienta o director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa.

Carlos André destacou ainda que o organismo que dirige já formou 290 docentes e forneceu mais de 500 horas em acções de formação contínua. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”